Sobre capas e sobre Kitchen (do editor)
“A elaboração de capas numa editora é tarefa estratégica e prazerosa ao mesmo tempo.
Nos mais de 30 anos que andei definindo capas, praticamente nunca foram “chutes” meramente ilustrativos. É tradição no Brasil ter imagem na capa, e isso não é muito contornável por questões mercadológicas. Capas meramente gráficas têm meu apreço, mas para chegar a algum resultado estético nem sempre é fácil. Se coloca portanto a tarefa de escolher como ilustrar as capas.
Eu me oriento basicamente por três eixos na escolha de motivos para as capas: adequação à obra, criatividade estética, visualização de como o livro ficaria numa vitrine ou estante de livraria. E a eterna sujeição a custos, mas de vez em quando a gente chuta o balde.
De forma geral, tentamos acoplar identidade visual à obra de nossos autores. Assim Peter Sloterdijk ganha motivos do expressionismo alemão, Hiromi Kawakami, uma Tóquio jovial, Yoko Ogawa, toques de um Japão mais fragmentado e intimista, Peter Handke, desenhos de sua filha Amina, Jun’ichiro Tanizaki, gravuras ukiyo-e, Yasunari Kawabata, as belas telas de Midori Hatanaka cujos originais entram para o acervo da editora. As de Atiq Rahimi levam pinturas de Sérgio Fingermann, e assim por diante. Mais recentemente, para Malina, de Ingeborg Bachmann, a capista externa Ruth Klotzel trabalhou com muita sensibilidade em cima de uma foto da autora empregando papel invertido para maior rugosidade no tato, em resultado que nos fez ganhar elogios da editora original, a prestigiosa Suhrkamp, da Alemanha. Resta que eu era muito solitário na escolha de motivos (leia-se: centralizador…), e ao discutir mais com o editor de arte Miguel Simon e a equipe me veio o retorno “para quê, se no final é sempre você quem decide?” Questão de me responsabilizar sozinho enquanto editor de capas eventualmente não muito bem-quistas ou comercialmente complexas para o livro, mas correspondendo a meu gosto pessoal.
Neste momento em que estamos levando a público Kitchen, de Banana Yoshimoto em início de carreira, quis ver associadas ao romance duas fotos de Tokuko Ushioda, veterana fotógrafa japonesa que recentemente se viu contemplada com exposição de seu trabalho na Japan House São Paulo, que me fascinou sobremaneira. De sua série ICE BOX com suas duplas de geladeiras fechadas e abertas, escolhi um par que para mim casava com o espírito dessa obra tão “intimidade de cozinha” de Banana Yoshimoto. Foi uma enriquecedora conversa triangular entre a escritora, a fotógrafa e a editora, pois no caso competia submeter esse “casamento” a ambas. Evidentemente, queria saber como seria a interrelação entre elas e como elas receberiam essa idiossincrasia de editor. (Angel Bojadsen)

Kitchen, a primeira grande obra da autora, é composta por duas histórias interligadas: Kitchen, a principal, dividida por sua vez em duas partes; e Moonlight Shadow, uma narrativa mais curta.
No centro da trama de Kitchen, acompanhamos Mikage, uma jovem órfã que encontra conforto e acolhimento na cozinha de sua avó. A cozinha, para ela, torna-se um espaço de refúgio e luto, simbolizando a continuidade da vida por meio da preparação de alimentos. Ao conhecer Yuichi e sua mãe transgênero, Eriko, uma mulher excêntrica e de espírito livre, eles formam uma família não convencional que encontra na comida e nas relações humanas a força para superar os desafios da vida.
Em Moonlight Shadow, Yoshimoto aborda o luto de forma ainda mais poética, nos fazendo acompanhar a jornada de Satsuki, uma jovem que perdeu o namorado em um acidente. A narrativa é permeada por elementos sobrenaturais e metafóricos, como a aparição de uma mulher misteriosa que oferece a Satsuki a chance de se despedir do seu amado. Essa história reforça os temas centrais do livro como um todo e também da poética geral de Yoshimoto: a aceitação da perda e a capacidade de seguir em frente, mesmo quando o mundo parece desmoronar.
Com tradução de Lica Hashimoto, Lui Navarro e Fabio Saldanha, Kitchen nos convida a refletir e imergir em temas como a morte, o luto, o amor e a liberdade, no melhor estilo Banana Yoshimoto.
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