O ano de 2025 marca o centenário do nascimento de Yukio Mishima (1925-1970), uma das figuras literárias japonesas mais celebradas e controversas.
Nascido Kimitake Hiraoka em 14 de janeiro de 1925 em Tóquio, Mishima veio ao mundo durante um período de profunda transformação para o Japão, que se despedia da era Taisho (1912-1926) e dava lugar à militarista era Showa, marcada por dificuldades econômicas, ascensão do nacionalismo e eventual guerra mundial. Essas dinâmicas históricas moldaram profundamente a visão de mundo e a voz literária de Mishima.
Sua infância foi marcada por uma avó opressora, Natsu, que o isolou dos pais por vários anos, fomentando sua imaginação e sensibilidade precoces. Apesar dessa criação difícil, ele se destacou academicamente e desenvolveu um amor pela literatura — não somente pelos clássicos de seu país, mas também por autores ocidentais como Oscar Wilde e Charles Baudelaire. Essa dupla exposição à cultura tradicional japonesa e à modernidade ocidental se tornou uma marca registrada de seu trabalho.
Após a Segunda Guerra Mundial, Mishima ganhou destaque como escritor publicando romances notáveis, como Confissões de uma Máscara, aos 24 anos. A obra semiautobiográfica explorou temas de identidade, sexualidade e alienação, ressoando profundamente com o público japonês do pós-guerra. Sua carreira literária foi prolífica, abrangendo romances, peças, contos e ensaios. Outros trabalhos — estes publicados pela Estação Liberdade — como A escola da carne, O marinheiro que perdeu as graças do mar, Vida à venda e a tetralogia Mar da Fertilidade, com seu primeiro volume Neve de primavera, consolidaram sua reputação de exímio escritor.
A vida de Mishima foi tão teatral quanto sua ficção. Nacionalista devoto, lamentou a deterioração dos valores tradicionais japoneses no período pós-guerra. Em 1970, numa tentativa dramática de golpe de estado que almejava inspirar o retorno destes valores que lhe eram tão caros, invadiu uma base das Forças de Autodefesa do Japão em Tóquio e tomou um comandante como refém. Ao perceber que seus esforços seriam em vão, decide se suicidar cometendo seppuku, ato que chocou o Japão e o mundo, mas solidificou seu icônico e controverso legado.
Ao tomarmos este 14 de janeiro para relembrar o centésimo aniversário de Mishima, percebemos que suas obras continuam a provocar e inspirar. Sua história e obras complexas oferecem uma lente pela qual podemos explorar as tensões entre tradição e modernidade, o individual e o coletivo, e vida e arte no Japão do século XX.